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Medici Assessoria

Fabio Medici • 17 de outubro de 2022

Natural Bodybuilding: Entrevista com o Marcelo Bueno, presidente da INBA no Brasil


O espírito do esporte busca mostrar e incentivar, mostrar que com esforço e dedicação todos podem atingir o seu máximo e melhor, seja isso através de pódios, títulos, desafios superados, ou simplesmente um corpo forte e resistente.


Neste ponto o treinamento de força sempre foi um dos grandes pilares para o desenvolvimento de atletas de diversas modalidades esportivas, mas não somente isso, o treinamento de força é almejado por muitos que buscam o desenvolvimento saúde, qualidade de vida e, também, de um corpo definido.


O tecido muscular esquelético, é um tecido extremamente plástico, ou seja, tem a capacidade de se adaptar as situações que são impostas a ele, gerando a possibilidade de hipertrofia com o aumento da área de secção transversa, que é demonstrado pelo aumento no seu tamanho e consequentemente definição corporal. Assim como quando não estimulado o musculo pode sofrer o chamado processo de atrofia, que é de forma mais simples o processo inverso da hipertrofia, podendo levar problemas a saúde do indivíduo.


Por esta grande capacidade de plasticidade (adaptação) muitas pessoas buscam a prática do treinamento de força e que historicamente fez com que se desenvolvesse as competições de fisiculturismo.


Dentro do fisiculturismo são avaliados diversos quesitos, estando presente a definição, tamanho e simetria muscular. Na busca pelo desenvolvimento contínuo muitos atletas buscam o uso de sustâncias proibidas comercialmente sem a real necessidade clínica. Os esteroides anabolizantes são os mais conhecidos mas não são os únicos e está prática não se faz apenas pelos atletas de fisiculturismo, infelizmente o uso e comercialização ilegal dentro do ambiente de academia se tornou a muito tempo um grave problema que não só afeta a própria saúde de quem utiliza mas que afeta toda uma cadeia de profissionais que buscam o incentivo a prática de atividade física e esporte de forma saudável.


Para tratar sobre este assunto e mostrar que sim, existe muitos profissionais sérios e comprometidos em levar o desenvolvimento do esporte / prática de atividade física com ética e responsabilidade entrevistei o Marcelo Bueno presidente da International Natural Bodybuilding Association no Brasil (INBA)

 

 

Marcelo, como foi o seu início e carreira com o treinamento de força e com o fisiculturismo?

 

Como praticante comecei com 13 anos de idade (a 42 anos), como instrutor comecei com 17 anos de idade, na época não se tinha a exigência de formação em ensino superior em Educação Física para ser instrutor em academia, por isso comecei muito cedo justamente pela paixão que eu tinha com o esporte (fisiculturismo) e, também tendo consciência de que a musculação era a base para todos os outros esportes.


No meu início como praticante com 13 anos de idade, eu morava em um sítio e com a ajuda do meu pai construí os meus próprios equipamentos, com barras com concreto, latas com pedra, para fazer o Pulley utilizamos uma roldana de poço lá do sítio. Com 17 anos fiz os cursos da FEPAM (Federação Paulista de Musculação) e da Confederação Brasileira de Fisiculturismo (IFBB).


Aos 19 anos comecei a fazer treinos específicos para competição, época que comecei a fazer o uso de esteroides anabolizantes na época quem aplicada as injeções em mim era a minha avó, não se existia a criminalização por venda sem indicação. Na época utilizava uma quantidade “baixa” comparada ao que se tem atualmente, mas mesmo assim atualmente se sabe que a quantidade e frequência mesmo que baixas não tem nada a ver com a segurança em relação a sua saúde.


Competi provas aqui no Brasil na FEPAM, fui campeão do Mister Barbarian, fui vice-campeão estreantes, vice-campeão da noite dos campeões, logo depois parei com as competições, isso na década de 1980, momento em que estava fazendo faculdade de Administração em que parei o curso e mudei para a Educação Física.


Pude fazer intercambio na Inglaterra lá busquei conhecer mais sobre o fisiculturismo no pais, que ainda era fraco, o Brasil no início da década de 1980 era melhor e a referência sempre foi os Estados Unidos, sempre seguíamos o que os americanos faziam.


Em 1995 fui contratado por um americano para trabalhar em uma academia na Florida, EUA, momento em que pude aprender muito mais como instrutor de fisiculturismo, aprendendo a "essência" do esporte. Competi na NPC (National Physique Committee), na época era top 5 no Mr. Florida, utilizando esteroides anabolizantes. Lá nos EUA eu vendia e passava para os meus atletas esteroides anabolizantes.


Na década de 1990 antes mesmo de ir para os Estados Unidos, por atuar com o Fisiculturismo escrevia colunas para as revistas Nova, Claudia, Corpo a Corpo, Boa Forma, Revista Vip. Quando a Mens Health veio para o Brasil fui chamado para ser colunista fixo desde a sua primeira edição.


Nos EUA a dinâmica das academias é bem diferente daqui do Brasil, não existe um instrutor fixo em sala de aula, os alunos alugam o espaço para utilizarem. Então além de aprender como instrutor pude me desenvolver na parte comercial, quando voltei para o Brasil tive academias e uma empresa de consultoria


O que te levou a refletir sobre a sua carreira e buscar outras formas de lidar?

 

Eu utilizei esteroides anabolizantes novamente de 2000 a 2002, momento que comecei a ter notícias de amigos dentro e fora de competições tendo problemas, alguns faleceram outros com sequelas graves, foi ai que comecei a refletir se estava realmente certo aquilo não só em relação a minha vida, mas em relação ao esporte em si.


Sabemos que muitas pessoas seguem e vislumbram o fisiculturismo para ficar “daquele tamanho” (tendo os atletas como referência) então durante muito tempo foi deturpado, o esporte, o que é o fisiculturismo, que é a essência dele lá atrás que não era exatamente isso, e sim era desenvolver o seu corpo de uma forma estética em termo de simetria e definição muscular. Sabemos que em todo o esporte, cada indivíduo é separado de acordo com a seleção natural de cada esporte. A musculação, o fisiculturismo é mais criterioso ainda, porque em uma competição observa-se a sua capacidade genética de se desenvolver simetricamente, ao que é possível chegar com técnicas de treinamento e alimentação. É diferente do que em modalidades como basquete e futebol que o seu “talento” em drible ajudam, na musculação (fisiculturismo) você precisa ser completo.


Com isso o esporte foi deturpado, pessoas morrendo, pessoas tendo sequelas, eu mesmo tive sequelas na minha vida, depois que casei que quis ter filhos, tive problemas em relação a isso, graças a Deus eu tive a minha filha, fazendo tratamento juntamente com a minha esposa, quando minha filha nasceu estava com 47 anos, hoje ela tem 7 anos.


Foi uma sequela que durou por anos. Não existe tempo, não existe recuperação, se você parar você está livre das sequelas? Ninguém sabe. Eu tenho medo de ter problemas cardiovasculares, problemas no fígado e em outros órgão pelo uso de esteroides anabolizantes. O uso de esteroides anabolizantes, abre portas também para o uso de outras drogas que se utilizam em relação ao desempenho e isso é muito sério.


Nesta minha mudança um dos pontos foi a produção do documentário ROLETA RUSSA em que você pode ver relatos dos maiores médicos do pais na área da fisiologia, endocrinologia e de atletas que tiveram sequelas graves e que estão vivos, além de mostrarmos casos de atletas que morreram.


Em 2005 quando eu casei com a minha esposa, Bianca Bertotti, que foi atleta da seleção brasileira de fitness, totalmente natural, foi ela que me apresentou os campeonatos lá fora (EUA). Foi na época que ela tinha voltado a competir após ter passado por algumas depressões de ver as meninas aqui fazendo o uso de esteroides e não era o que ela queria para a vida dela.


Em 2006 fui acompanhar ela em competição nos Estados Unidos aonde conheci o Musculemania e vi que realmente era aquilo que eu queria, vi o ambiente do campeonato, vi pessoas super bonitas, os homens e mulheres não era aquela coisa “bizarra” deturpada, das disfunções da própria imagem como a vigorexia. Foi neste momento que percebi que deveria me preparar para ser não somente um personal, mas um preparador físico de atletas verdadeiros, não de atletas de mentira. Eu achava que eu era o melhor preparador físico, o melhor personal por saber manipular, saber utilizar ciclos que eu próprio desenvolvi, ou que eu próprio fui cobaia de médicos desde a época de 1980 e 1990 em que se começou a fazer o uso de GH, Insulina. Eu sabia manipular muito bem, mas na realidade eu não transformava corpos eu transformava a vida da pessoa para o mal e graças a Deus eu não tive nenhum relato destes alunos com problemas, mas eu tive que reaprender a fazer a coisa certa e não utilizando esteroides anabolizantes.


Aquele que fala que é preparador físico utilizando esteroide anabolizante para mim não é preparador físico, para mim é um "drug dealer", para mim isso não é ser preparador físico. Eu não considero esta pessoa como um real treinador / coach / preparador físico.

 


Como conheceu a INBA nos EUA e como foi o processo para que levasse ao desenvolvimento dela aqui no Brasil?

 

Após conhecer o Musculemania primeiro com a minha esposa, Bianca em 2006, depois preparando o pessoal aqui para ir competir lá, Miami e Las Vegas, o último que formos foi em 2017 / 2018, já estávamos com a ideia de trazer a federação Musculemania para o Brasil, mas nestes últimos anos em que tivemos presentes percebemos que apesar de haver exames antidoping lá o controle não era tão rigoroso, sabemos que mesmo tendo antidoping sempre há casos de atletas que de alguma forma querem burlar, se “dar bem” no campeonato.


Em 2010 foi a nossa primeira tentativa para trazer o Musculemania porem o mercado aqui não tinha uma absorção positiva para o Natural Bodybuilding. Em 2018 após fazer o documentário Roleta Russa que foi muito bem aceito e que foi transmitido inclusive pela rede Record no Domingo Espetacular, com os contatos dos médicos que participaram do documentário consegui chegar até a ABCD (Agência Brasileira de Controle de Doping) que inclusive utiliza o documentário que produzi para treinamento dos fiscais de controle antidoping e, as coisas foram crescendo.


Abrimos uma comunidade no whatsapp com cerca de 200 atletas que praticavam diretamente o Natural Bodybuilding, além dos seguidores nas redes sociais (Instagram), com isso de 2018 para 2019 chegou o momento de trazer de forma séria uma federação que fosse signatária da ABCD, foi aonde conheci a INBA EUA (International Natural Bodybuilding Association), meus ex-chefe, Chris Moore, quando trabalhei na Florida (1995) que tinha migrado para o Natural Bodybuilding me apresentou o Denny S. Kakos presidente da INBA/PNBA Global que é considerada a maior federação natural do mundo e que são signatários da WADA (Agencia Mundial Antidoping).


Em janeiro de 2021 fui nomeado presidente da INBA Brasil, como estávamos em pandemia, passamos um ano para formatar toda a documentação da federação e neste ano 2022 fizemos o nosso primeiro campeonato em abril aqui em São Paulo que foi um sucesso, fizemos um campeonato em julho em Taubaté, íamos fazer uma terceira etapa em Cotia mas devido as eleições não foi possível. Mas 2023 já estamos com o planejamento de um calendário bem interessante.


Existem muitas e diferentes substâncias que podem ser utilizadas para promover o aumento do tamanho, definição e simetria muscular quais testes estão dentro do escopo de analises da INBA e como são as parcerias para garantir que o atleta não faça o uso?

 

Os testes são:

·        Urina, seguindo toda a lista de sustâncias proibidas pela WADA;

·        Exame laboratorial, para iniciar no próximo ano como é feito pela ABCD no passaporte biológico, pelo ranqueamento dos atletas nossa competição;

·        Poligrafo, para algumas etapas em testes surpresa;

 

Contamos também, com a parte educacional realizada em parceria com a ABCD.

Fizemos a parceira com o laboratório americano utilizado pela INBA/PNBA Global para que possamos colocar múltiplos testes em uma mesma competição devido as características da modalidade, já que pela ABCD pode ser feito somente um tipo de análise por competição. Com isso recebemos os kits e enviamos para os EUA as amostras para serem analisadas.

 

Caso o atleta filiado faça o uso e apresente o chamado Resultado Analítico Adverso (RAA) qual é a conduta com o atleta?
 

Todos atleta filiado assina um termo de consentimento e responsabilidade que diz que caso seja pego deverá pagar multa que pode variar de R$2.000,00 a R$5.000,00, além de ser afastado por pelo menos 2 anos, e vai para o “Hall vergonha” que é ter divulgado o seu nome com a substância que utilizou em nossas redes sociais.


Se for um atleta reincidente não poderá mais competir em nossas provas.

 

Pensando em futuro, desenvolvimento seja da modalidade fisiculturismo, seja da prática em si do treinamento de força como você busca ampliar o conhecimento de praticantes e profissionais envolvidos para que seja trabalhado de forma responsável e haja assim mais incentivo? 

 

A imagem do fisiculturismo gera muito preconceito, normalmente quando se fala que é atleta de fisiculturismo as pessoas já associam com o uso de substâncias proibidas, essa ideia está presente porque em muitas competições a disputa não está por quem teve a melhor técnica de treinamento em si, e sim por quem o corpo aceitou melhor o uso de substâncias proibidas (até aquele momento) o que infelizmente leva a criminalização do atleta e / ou praticante.


Já o Natural Bodybuilding não tem isso, muitos fisiculturistas “tradicionais” aqui no Brasil tiram sarro, fazem chacota de quem prática o Natural Bodybuilding, diferentemente do que acontece nos Estados Unidos que existe respeito entre os atletas que escolhem qualquer uma delas.


O proposito que tenho com o Natural Bodybuilding é acima de tudo educacional, alertar os jovens sobre os riscos, estou sempre dando palestras em escolas, universidades, levando o conhecimento dos riscos do uso de esteroides anabolizantes. Hoje dentro das mídias sociais existem pessoas que fazem apologia ao uso de esteroides anabolizantes, blogueiros com cerca de 2 milhões de seguidores, médicos que incentivam o uso apenas pelo lado comercial e que também tem muitos seguidores. O que poucas pessoas tem claro é que muitos destes médicos tem ações dentro do Concelho Federal de Medicina e que só estão trabalhando graças a liminares, muitos pacientes, muitos adolescentes não sabem e nós temos a obrigação de falar.


Contamos com parceira com médicos que nos dão além de respaldo médico, respaldo jurídico para trabalhar principalmente no fator educacional, desde jovens a profissionais de áreas como educação física, nutrição, fisioterapia, entre outras.


A musculação / treinamento de força é muito importante para a saúde e como a base para muitas modalidades por isso estou sempre buscando formas de levar conhecimento e informação, através de parcerias, cursos, palestras além do desenvolvimento dos eventos com a INBA Brasil.


Fábio Medici Lorenzeti,

Diretor e treinador na Medici Assessoria Esportiva.

Diretor técnico da Liga de Desportos de Rendimento e de base da capital, vale do paraíba e litoral norte (LIDER) 

Mestre em Ciências (EEFE-USP, Lab. de nutrição e metabolismo aplicado a atividade motora)
Autor dos livros: Nutrição e Suplementação Esportiva: aspectos metabólicos, fitoterápicos e da nutrigenômica (2015, Phorte); Exercício, Emagrecimento e Intensidade de Treinamento: aspectos fisiológicos e metodológicos (2013/2ª ed., Phorte); Biologia e Bioquímica: Bases aplicadas às ciências da saúde (2011, Phorte). Além de outros trabalhos científicos nacionais e internacionais.


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